Limitou-se a pegar numa faca e a delicadamente cortar um pedaço de vida que depois transformou em letras e colou, uma a uma, nas páginas de um livro. Isto deve-se talvez ao facto de a autora, Harper Lee, a derradeira one-hit wonder do mundo literário, não ter muito para contar. É o meu ritmo, que abranda proporcionalmente ao ritmo do enredo, e o enredo neste To Kill a Mocking Bird corre à velocidade de uma tarde de verão embalada por um pardacento baloiçar de uma cadeira de embalar num qualquer alpendre do profundo ruralismo americano. Não me auto-impus este ritmo lento para antecipar uma maior absorvância do que lia, como se faz com o último cubo de chocolate que deixamos pernoitar na nossa boca até à dissolvência total. Alguns, a maioria, de vocês lia-o num fim-de-semana. Um livro como o To Kill a Mocking Bird é, também ele, para ser bebido com vagar, num ruminar quase, individual, de cada capítulo, de cada parágrafo, de cada frase. Um vinho para nos acompanhar durante a vida. O Vinho do Porto, é por definição, um vinho para saborear. Quando se abre uma garrafa de vinho do Porto não se bebe tudo de uma vez.
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